O Encontro

Minha cabeça dói e não consigo mergulhar ao que meus olhos
Definitivamente sou patética, na maneira como escolho os
vêem. A surdez da biblioteca silencia as letras negras deste
homens que levo para cama. Aquele sentado à mesa, com vários
livro. Preciso de ar e um pouco de alento para minha bexiga
livros ao seu redor, por exemplo. É bonito o meu Othelo, mas
sufocada. Enquanto observo à minha volta a possibilidade de
me agrada, de fato, pelo vinco das sobrancelhas! E também,
pessoas que, como eu, se prontificaram a ir ao banheiro e
entre as pernas, a possibilidade de uma noite em claro.
enumero a probabilidade em ter que me expor a outros durante
Seus olhos, grandes, são castanhos, como as páginas que ele
meu alívio urinário, percebo que ela, como das outras vezes,
vira enquanto franze ainda mais os sobrolhos. Será que está
me analisa. Seus olhos pequenos e levemente puxados denotam
concentrado no que lê? Je ne sais pas! Ele sempre vem a esta
uma mão hábil e caprichosa. Sua letra deve ser bonita. Ela não
biblioteca, disto tenho certeza! Já o vi várias vezes, sempre
me olha diretamente, apenas quando acredita que não percebo.
sentado àquele canto da mesa. O que será que tanto estuda?
Ao aproximar-se de mim, com o pretexto de perguntar algo à
Ou lê, simplesmente, sem qualquer compromisso com ninguém,
funcionária que insiste em arrancar ruídos da máquina de
a não ser com seus próprios devaneios. Vou dormir com ele hoje
escrever, noto que ela tem uma voz seca, um pouco grossa e,
disto eu também tenho certeza. Tesão à primeira vista. De
aveludada, conforme denunciavam seus cabelos castanhos e
ambos os lados.
seus lábios suados. Sua fala revela um certo estrangeirismo
Definitivamente
exibicionista. Mas, quem liga. Apenas consigo imaginar
sou patética!
seus seios magros, folgados na blusa pretensamente justa.